A JURA DO JANJÃO


É com muita alegria no coração que conto aqui está história, que é passada de pai para filho na minha família e que foi imortalizada pelo Jornal “Gazeta de Garangola” do ano 1935.
É uma história hilária, mas não há ninguém que conteste a veracidade da mesma.
Na foto acima podemos ver vários fazendeiros reunidos na propriedade do Senhor Otávio de Araújo. É uma foto rica em detalhes, todas as pessoas desta fotografia foram influentes na cidade e região na janela está minha tia mariazinha irmã da Dona Carmem que seria minha avó por parte da minha mãe. Mas a história que iremos narrar se trata de meu bisavô paterno o Senhor Janjão Santana, o de botas e barba grande e ao seu lado direito está meu avô Raimundo Santana e em destaque o Ford bigode citado no texto. Assim começa nossa história:
Com dificuldades foi inaugurada afinal, a estrada de rodagem que liga Abre Campo a Itaporanga (atual Sericita).
Pronta a estrada até Itaporanga, o foguetório estava queimando, meu pai resolveu melhorar o trecho que vai de Itaporanga até Santana, em atenção ao velho, compadre e correligionário, Janjão Santana.
Janjão Santana, desde que me lembro, era Grilo de Papo Amarelo, apelido político da Aliança Liberal, do Partido Progressista e se tivesse algum defeito, era o de não tolerar os Gafanhotos, apelido local dos Peremistas, ou melhor, dos Bernadistas.
Morava nas proximidades de Santana, num sobradinho branco, a margem esquerda de quem vai. Atrás da casa naquele tempo, floria verde e branco um pequeno cafezal. Na frente, um pasto bem batido, com umas poucas reses, dentre as quais se destacava, altaneiro, com a juba arrogante o touro que comprou na exposição de Viçosa.
O gir era mesmo de estima. Azulão, era o nome do boi. Fazia até arrepiar quando nas pasmaceiras das tardes frias das fraldas da serra, enchia as cercanias com aquele mugido longo, cheio de saudades distantes das terras de Viçosa. Azulão, com toda certeza, era a menina dos olhos de Janjão.
A estrada ia varando o Rio Santana acima, que os homens de meu pai trabalhavam de verdade e, além disso, não faltava o entusiasmo dos sitiados ribeirinhos que ajudavam em tudo que podiam.
Janjão já sabia que meu pai era apressado, quando a visita era longa durava em torno de meia hora, mas nunca faltava um café acompanhado.
Anos depois, chegou à Água Limpa a notícia de que Janjão e Cota andavam meio brigadas. Isto nos entristeceu muito, pois o casal era muito feliz. Fomos visitá-los. Minha mãe conversava com a comadre Cota e o meu pai com o compadre Janjão. E eu ouvia de espoleta.
- ah, compadre Otávio, não vê que tem muita gente invejosa nesse mundo? Enfiaram na cabeça de minha Cota que eu tava andando com uma rapariga lá em Itaporanga, e que até tinha montado casa pra ela.
- Compadre, o povo fala demais mesmo. A comadre vai vendo que é mentira e invenção.
- Pois é compadre Otávio. Eu falei com ela. – “Cota, minha nega, isto é candonga desses Gafanhotos que não quer ver a gente viver na felicidade. Tira da cabeça isso Cota, minha nega. Se eu fiz uma coisa dessas, quero que o “Azulão” amanheça morto amanha”. E quero mesmo compadre!
- E a comadre não acreditou em você?
- Acreditou sim, compadre, e aquela noite nós dormimos sossegados.
Mas, foi só uma noite, compadre Otávio. No outro dia, escuro ainda, eu acordei com a minha Cota, chorando igual a uma menina. Bem na varanda da casa. Eu cheguei perto dela e falei:
- “Cota, minha nega”... Mas, quando olhei pro terreiro, bem perto do curral, tava o “Azulão” espichado de perna pro ar. Morto compadre, cobra venenosa! Ah! Compadre Otávio e agora a paixão que a Cota ficou nela...
(Jornal Gazeta de Carangola, datada de 01/12/1935 escrito pelo Senhor Bonergio de Barros, baseado em fatos verídicos).

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