UM “E-MAIL” DE RESGATE PARA FILEMOM

UMA LEITURA TIPOLÓGICA DA EPÍSTOLA A FILEMOM

“10. Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões;
11. O qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil; eu to tornei a enviar.
12. E tu torna a recebê-lo como às minhas entranhas.
13. Eu bem o quisera conservar comigo, para que por ti me servisse nas prisões do evangelho;
14. Mas nada quis fazer se o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas voluntário.
15. Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesse para sempre.
16. Não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor?
17. Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.
18. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta (…).
22. E juntamente prepara-me também pousada (…).
(Filemom 10-18 e 22)
A par do episódio narrado no texto acima transcrito, com um conteúdo histórico e uma demonstração invejável de retórica paulina, subjaz nessa epístola – não se pode negar – uma mensagem voltada para o resgate do ser humano, com um pano de fundo de teor salvífico/cristológico. Fica nítido pelo desenrolar dos fatos encaixando como uma luva à salvação do ser humano, com uma ênfase trinitária bem desenhada pelo escritor neotestamentário, razão pela qual, numa tonalidade ousada, convido aos amigos, internautas leitores, a um passeio na carta de Paulo à Filemom, carta de intercessão por Onésimo. Eis o desafio hermenêutico.
Num primeiro momento de investigação textual tipológica, estabeleço, de antemão, algumas premissas como elementos de interpretação bíblica com as quais vamos trabalhar para uma compreensão da mensagem proposta, à luz dos ensinamentos neotestamentários. Destarte, tomarei alguns nomes dos personagens envolvidos no quadro histórico apresentado pelo Apóstolo Paulo. Passo, portanto, pontilhar a etimologia dos nomes e a inserção tipológica, encontrada no episódio.
Paulo (significa “pequeno”)= tipo de Jesus, que se fez “pequeno” para resgate;
Onésimo (significa “útil”)= tipo do homem, antes inútil;
Filemom (significa “bondoso”)=  tipo do Pai
Tíquico (significa “fortuito”)= tipo do Espírito Santo.
Colossos (significa “gordura”)= tipo das moradas eternas.
Na ocasião dos fatos, Paulo, possivelmente sexagenário, já quase no final de sua vida missionária, escreve uma carta (epístola) para o seu amigo Filemom, que residia numa cidade (cujo nome era Colossos), intercedendo por Onésimo, escravo de Filemom, que havia fugido de Colossos para Roma, para tentar a vida e, possivelmente, pelo teor da carta, havia furtado alguns valores de Filemom. Esse quadro demonstra a vida do ser humano que sai da Casa do Pai e se lança em suas buscas pelo sentido da vida, deixando, o verdadeiro sentido para trás, o seu verdadeiro lar.
No texto, Onésimo (empregado de Filemom) se afastou da pequena cidade de Colossos (cujo etmo significa “gordura”), possivelmente deveria ter furtado algo de Filemom e teria fugido para Roma, cidade maior. Quando chegou a Roma, encontrou, em suas andanças, com Paulo que estava preso (possivelmente numa prisão domiciliar). Com a pregação de Paulo, Onésimo se converteu ao evangelho. Agora, Paulo, que era amigo de Filemom, escreve para que Filemom receba Onésimo não mais como servo, mas como irmão. Paulo disse para Filemom que, o prejuízo que Onésimo tinha produzido Filemom, ele (Paulo) pagaria quando o encontrasse. O texto da carta carrega um tecido argumentativo intenso, recheado com uma excelente retórica.
Vamos à mensagem: O ser humano (na figura de Onésimo) fugiu da Casa do Pai (Colossos, lugar de “gordura”, de alimento substancioso) e levou consigo os valores que “furtou” do Pai. Vai para uma terra longínqua (Roma, o mundo). Contudo, lá o homem tem um encontro em sua vida que vai fazer uma grande diferença. É na prisão (leia-se: “prisão do Calvário”) que o homem tem um encontro com o Senhor Jesus, que se fez pequeno (o nome de Paulo tem esse significado), deixando a Sua Glória para encarnar na figura de um carpinteiro, aquele que talha e trabalha na madeira, como um trabalho artesanal no coração dorido do ser humano, esculpindo uma nova forma de viver.
Paulo faz uma brincadeira com o nome de Onésimo, pois o seu nome significa “útil” e Paulo diz (v.11): “O qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil…”. Com esse trocadilho bem humorado, Paulo descreve a transformação do homem diante de Deus. Paulo se coloca como “o velho”, porque ele estava revelando a eternidade de Jesus. Interessante que no versículo 9 (não transcrito acima), Paulo se utiliza de uma expressão semelhante ao Tetragrama, quando afirma: “(…) sendo eu tal como sou, Paulo, o velho (…). Assim é que, a expressão grandiloquente “Eu Sou” (YHWH), revela a divindade do Senhor Jesus.
Pela lei vigente  à época de Paulo, Onésimo deveria ser condenado à morte, tal como o ser humano, pois o salário do pecado é a morte. A uma, porque fugiu do seu senhor, numa fuga que resultou na possibilidade de morte. A duas, porque furtou bens e valores que pertenciam a Filemom. Paulo, no entanto, intercede por Onésimo e afirma: “porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesse para sempre” (v.15). Isso é maravilhoso porque anuncia o resgate eterno do ser humano com o pacto do cárcere de Jesus para a liberdade do ser humano que aceito esse Pacto Cristológico Sacrificial Salvífico.
Paulo também vai dizer, no verso 17: “Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo”. Essa frase demonstra que Paulo tomou a dor de Onésimo e se colocou em seu lugar, fazendo menção do companheirismo do Pai (“Eu e o Pai somos Um”). À sombra desse raciocínio, há um texto veterotestamentário com uma profecia apontando para o “companheirismo” entre O Pai e o Filho: “Ó espada, ergue-te contra o meu Pastor e conta o varão que é o meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos; fere o Pastor, e espalhar-se-ão as ovelhas” (Zacarias 13: 7).
Adiante Paulo diz: “E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta”. O Pai colocou na “conta de Jesus” as nossas dívidas, as dívidas do ser humano, de maneira que não somos mais “servos devedores”, porque Ele não nos chama mais de servos, mas de amigos. Eis o resgate do pacto com a Graça de Deus encarnada em Jesus na Cruz do Calvário, revelada pelo Espírito Santo.
Sob esse viés, é importante registrar que a carta de Filemom, juntamente com outras duas (Colossenses e Efésios) foram escritas por Paulo e enviadas por intermédio de Tíquico, o mensageiro de Paulo, para o consolo de quem as lessem. Tíquico, o companheiro de Paulo faz, aqui, o tipo do Espírito Santo, O Consolador, que convence o homem para a salvação. Portanto, a operação do Deus Trino é revelada numa aglutinação com uma narração, de forma muito interessante para quem tem olhos de bem enxergar.
No final (v. 22), o texto registra: “E juntamente prepara-me também pousada (…)”. Esse texto tem uma conexão com aquele no qual Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas (…) vou preparar-vos lugar”. Aqui o texto tem um fundo escatológico, pois fala do arrebatamento da igreja e da segunda vinda de Jesus, resgatando o Éden perdido (lugar de “gordura” e abundância). Deus abençoe o amigo leitor com a Sua Graça e a Sua Paz.
ÉZIO LUIZ PEREIRA
http://www.ezioluiz.com.br

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