O Vaso de Alabastro







E eis que uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo. Mas, ao ver isso, o fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta, saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora. E respondendo Jesus, disse-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Respondeu ele: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentos denários, e outro cinqüenta. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais? Respondeu Simão: Suponho que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Lc. 7:37-44

Nenhum outro evangelho relata de maneira tão rica e detalhada esta passagem, como Lucas. Nos livros de Mateus e Marcos, mostra-nos a gratidão, devoção e grande amor de uma mulher que derrama aos pés de Cristo um bálsamo muito puro e caro. Mostra também a censura e cegueira dos discípulos de Jesus, preocupados, assim como Marta, de fazer algo para Deus, em vez de adorá-lo de todo o coração. Revela que estavam na casa de Simão, “o leproso”, na cidade de Betânia. Narra também, o elogio de Jesus, dizendo que o que ela estava fazendo, se agregava agora ao precioso evangelho de Cristo, no mundo inteiro, para memória dela. Já no evangelho de João, ganhamos mais corpo neste cenário, onde relata que faltavam seis dias para a páscoa, e que estavam os três irmãos naquela ceia, na casa de Simão. Marta, que servia. Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos, sentado à mesa com Jesus, e Maria, que ungia os pés de Jesus, com uma libra de balsamo de nardo puro. “...encheu-se a casa do cheiro do bálsamo”. Mas em Lucas, o quadro é finalizado, dando-nos a conhecer mais das riquezas da graça de Deus. Aqui narra que um “fariseu” convidou Jesus para comer em sua casa. Diz que Maria não só tinha quebrado o vaso de alabastro e ungido os pés do Senhor, mas “estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo”. Que mistura maravilhosa de perfume e lágrimas! De generosidade, consagração, profunda gratidão e amor! Penso que suas lágrimas eram muito mais caras para Jesus, do que o bálsamo de nardo puro. Vemos tambem a miserável condição do fariseu [e de muitos judeus que ali estavam para ver milagres - Jo. 12:9], pois na sua mente julgava pelo passado, pelas aparências, um ato tremendo de amor, nunca visto em todos os evangelhos. Alem de leproso, como cego, julgava como impostor, o próprio Senhor, que entrara em sua casa para abençoar-lhe. Apesar do seu destaque na sociedade e na religião, o amor intenso de uma pecadora, da qual Cristo tinha expulsado sete demônios, expunha a total incapacidade de Simão, de receber cura, perdão e salvação. Não sabemos ao certo, se ele um dia conseguiu ver seu rosto e coração, diante do amor do salvador. Cristo fez duas perguntas a Simão. Simão, tenho uma coisa a dizer-te.”... Será que ele compreendeu a lição sobre o poder do perdão e da graça na vida de grandes pecadores? “Respondeu Simão: Suponho que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher?”...Então Jesus começa a lhe falar da salvação, do arrependimento, da gratidão, da fé que é dom de Deus, que gera em nós o verdadeiro amor. Maria Madalena, não estava mais presa à crítica cruel e impiedosa dos homens, nem prisioneira do seu passado, nem escravizada aos seus pecados. Agora, no coração dela, não tinha mais ninguém naquela casa, a não ser ela redimida, com um amor, “de quem devia o mundo inteiro ao seu senhor”, e Cristo, seu salvador fiel. Os discípulos a repreendiam, sua irmã também, os convidados e o fariseu leproso. Quantos dedos apontados. Quantos olhares de deboche e reprovação, para quem Jesus tanto amou. Quão sintonizada estava Maria com o amor do mestre, mesmo entre suas lágrimas de gratidão e tristeza, visto que Jesus repreendia os demais dizendo: “Porque afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo. Ora derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento.” - Mt. 26:10,12. Cristo a exaltou não somente naquela hora, mas na manifestação do seu poder e ressurreição, pois não foi nenhum dos muitos discípulos, nem qualquer outro, que o viu primeiro naquela manha refulgente de vitoria eterna, mas uma pecadora apaixonada por Jesus...“Por isso te digo: Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. E disse a ela: Perdoados são os teus pecados. A tua fé te salvou; vai-te em paz.”
Por isso ficamos tão emocionados quando lemos no final do evangelho de João, que: “No primeiro dia da semana [quem?] Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro. Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram. Então João e Pedro correram ate o sepulcro. Entraram, viram o lugar vazio e saíram. “Tornaram, pois, os discípulos para casa.” [mas...] “Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava..., viu dois anjos vestidos de branco...e perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram. Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei. Disse-lhe Jesus: Maria! Ela, virando-se, disse-lhe em hebraico: Raboni! - que quer dizer, Mestre. Disse-lhe Jesus: Não me toques, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. E foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: Vi o Senhor!-e que ele lhe dissera estas coisas.” – Jo.20:1-2; 10-18
Louvado seja o nosso Senhor Jesus, pois dele recebemos amor e tolerância, e não desprezo e abandono. Dele recebemos misericórdia e perdão, e não acusações. Dele recebemos perdão e bondade, e não cegueira e morte da religião, onde não encontramos  o “suportai-vos um aos outros em amor”.  Quando somos ameaçados pelo furor das ondas do mar, basta-nos a pessoa do Senhor e seu perdão, que nos abraça com amor constante e nos revela mais da sua graça, onde podemos chorar, depositar todo nosso amor e gratidão, nossa “libra de bálsamo de nardo puro”, e descansar seguros aos teus pés, amado Raboni. 
Meditemos mais demoradamente neste tão rico texto da palavra e na curta pergunta do mestre: Vês tu esta mulher?”... Consegues ver o brilho tão puro e precioso, de suas lágrimas de amor e gratidão?

Daniel Prado Carneiro – 01.05.2012


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