ANÁTEMA E MARANATA – DESVENDANDO A VERDADEIRA CONSTRUÇÃO TEXTUAL BÍBLICA
“Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema; maranata”
(I Coríntios 16:22)
Com o fim de obter uma compreensão séria
e crível do que se vem a dizer, necessário se faz um rápido retrospecto
na história do tema. Perde-se, pois, na noite dos tempos a origem da
escrita e de como nos chegaram os Textos Sagrados. Diz-se que os hebreus
transmitiram a sua cultura de forma verbal durante longos anos, até
chegarem os primeiros rudimentos da escrita, na Mesopotâmia (atual
Iraque), tempo no qual Abraão recebeu o chamado do Senhor e nesse
momento histórico havia um tipo de escrita cuneiforme (do latim cuneus,
significando “cunha”, como a forma desses escritos) em uso. A
propósito, foram encontrados no Megido, fragmentos desses escritos,
datados do século XV a.C, em criptogramas simples.
Mais adiante, no tempo dos descendentes
de Jacó, como escravos no Egito, estavam em uso os complexos
hieróglifos, nos quais havia uma série de tipos com figuras para
imprimir significados que faziam sentido para as pessoas daquela época.
Decerto, eram desenhados com pena e tinta sobre papiros, palácios,
túmulos, muros e monumentos. Nesse contexto histórico, os hebreus
conviveram tanto com os escritos cuneiformes, como os hieróglifos
egípcios, a despeito de não serem tão versados na escrita egípcia, mercê
da escravidão com a qual conviviam.
Em razão da intensidade do uso do
simbolismo na escrita primitiva e essa escrita era entendida mais
precisamente pelos escribas, antes da invenção do alfabeto, na Idade de
Bronze (1525-1200 a.C.), iniciou-se, em Canaã, antes da chegada dos
fenícios (cerca de 1200 a.C.), o desenvolvimento de uma escrita que
daria início ao hebraico. Com a chegada dos fenícios, houve a produção
de um conjunto mais extenso de textos usando um alfabeto rudimentar,
impregnado de simbolismos, tal o alfabeto fenício, do qual surgiu, com o
aprimoramento, o riquíssimo alfabeto hebraico, composto da seguinte
sequência de vinte e duas letras, consoantes (transliterado para o
português): “álef, bet, guímel, dálet, hê, waw, záin, het, tet, yod,
kaf, lámed, mem, nun, sámek, áin, pê, tsade, qof, resh, sin (shin) e
taw”. Não há vogais, pois as “vogais” eram apenas pronunciadas; não
escritas. Havia, pois, uma aglutinação de consoantes escritas com sons
vocálicos, produzindo o sentido dos textos.
Com efeito, há um grupo de idiomas
derivados denominado “semítico ocidental” (“semítico” porque derivado de
“Sem”, um filho de Noé), dentro do qual se encontra o hebraico, o
fenício (e o ugarítico) e o aramaico. Entrementes, o hebraico, tanto
quanto o aramaico, é bastante atípico, pois os sons alteram o que está
escrito, de maneira que a pronúncia altera todo o sentido do escrito.
Tome-se, pois, em português, o grupo: “dst”, poderia ser lido como:
“deserto” ou “distante”, dependendo da pronúncia.
É aqui que ocorre confusão amiúde na
interpretação do sentido dos vocábulos, e muitos “engolem” o que é
repassado, sem questionar a verdade. À sombra desse raciocínio, a
palavra “anátema” é de origem grega e o vocábulo “maranata” se origina
do aramaico com uma tentativa de “tradução” para o grego e
posteriormente para o alemão, com Lutero, e, a partir daí, para outros
idiomas. Nesse quadro, a verdadeira origem foi distorcida e perdida no
tempo. Não se há de olvidar de que “traduzir” e “transliterar” são
mecanismos distintos. Traduzir constitui uma forma de adequar o idioma
original para outro que se pretende ler, e transliterar constitui uma
maneira de transplantar as letras do original para o idioma que se
pretende ler. Não se confundem. Deveras, o hebraico, a rigor, não se
traduz com precisão, pois a ênfase do som original altera o sentido.
Sem embargo do que foi dito, o hebraico
se escreve da direita para a esquerda, ao contrário do idioma português e
da maioria das línguas dos povos, de maneira que escrever “deserto” ou
“distante”, ter-se-ia, aproximadamente, transliterado: “tsd” (não
“dst”), para se ler o contrário. Assim é que, todos os livros do Antigo
Testamento foram escritos originariamente em hebraico, com exceção de
alguns poucos trechos em aramaico. Contudo, o idioma, ao longo da
história, sofreu sensível alteração. Basta, tomando o português como
exemplo, ler, no original português, a carta de Pero Vaz de Caminha e
não se entenderá o português como hoje se lê, mercê da alteração sofrida
no português, pela ação do tempo. Veja que o Antigo Testamento foi
escrito num período de mil anos e há muito tempo e a carta de Pero Vaz
de Caminha foi escrita, num curto espaço, há quinhentos anos. Isso sem
contar com os rudimentos antigos e alterações posteriores. Isso implica
num repensamento para um bom entendimento.
A par da dificuldade de atualização do
idioma, com o auxílio, da arqueologia, houve uma perseverança e uma
constante impressionante no transporte do Texto Sagrado para o nosso
tempo, com poucas variações do Antigo Testamento. É verdade que alguns
nomes de lugares foram alterados posteriormente e talvez de pessoas, mas
o fato se conservou pela tradição. Deve ser dito que a partir do século
quinto a.C. os israelitas abandonaram o idioma hebraico e passaram a
falar o aramaico, a língua dos conquistadores persas, de maneira que o
hebraico passou a ser usado apenas para a adoração a Jeová e na
Escritura Sagrada, daí ter conservado bastante, sem alterações
posteriores significativas. Afinal, quando se utiliza um idioma, em
conversas, ele fica suscetível a alterações com o dia-a-dia. Isso não
ocorreu com o hebraico, depois do uso do aramaico. Como por um milagre, o
único texto que foi conservado no hebraico, de forma razoável, até os
dias atuais foi o Texto das Sagradas Escrituras.
Todavia, há livros mencionados na bíblia
que foram perdidos, tais como: “Livro das Batalhas do Senhor”
(mencionado em Números 21:14), “”Livro do Justo” (mencionado em Josué
10:13 e II Samuel 1:18); “Histórias de Salomão” (mencionado em I Reis ”
11:41), “História dos Reis de Israel” (mencionado em I Reis 14:19 e mais
outras referências), “Crônicas do Profeta Samuel” (mencionado em I
Crônicas 29:29) e outras dezenas de importantes livros perdidos.
Num período de duzentos anos os judeus
(os hebreus que vieram de Judá) viveram sob o domínio dos persas, no
período em que Ciro venceu os babilônios até Alexandre, o Grande,
conquistar o Império Persa. Foi assim que o helenismo ganhou vulto e o
idioma grego passou a ser difundido, de maneira que os judeus dispersos
(da diáspora) não conseguiam ler mais as suas escrituras, em hebraico, o
que reclamou uma urgente tradução para o grego, feita no terceiro
século a. C. Assim, surgiu a primeira tradução da Bíblia. Acrescente-se
que a tradução da bíblia para o latim, denominou-se “Vulgata”.
Sob esse viés, Ptolomeu, general
importante de Alexandre, o Grande, pediu que viessem estudiosos, seis
representantes de cada uma das doze tribos israelitas, num total de
setenta e dois homens, com o intuito de traduzir a Torá (para nós
“Pentateuco”) do hebraico para o grego, a fim de ser compreendida e
foram encaminhados para uma ilha no Mar Mediterrâneo. Essa tradução foi
feita também em setenta e dois dias. Assim., essa tradução por “setenta”
homens ficou conhecida como “Septuaginta”, que é a versão grega padrão
das Escrituras Judaicas. Nesse contexto, o Antigo Testamento foi escrito
originariamente no hebraico, com textos em aramaico e o Novo Testamento
originariamente no grego com algumas expressões em aramaico com
tradução para o grego, dentre as quais o vocábulo “maranata”. Pois bem.
Sem mergulhar muito a fundo no escorço histórico, em singelo resumo,
passemos a analisar os dois vocábulos no paralelismo paulino.
“Anathema“, vocábulo grego,
originalmente significa “algo depositado”, num lugar sagrado ofertado a
uma divindade grega, portanto aquilo depositado ficava destruído, o que
gerou um outro sentido pejorativo, tal seja “maldito” e nos dias do Novo
Testamento, o sentido era de “maldito”. Portanto, num primeiro momento,
Paulo lança um solene adjetivo em quem não ama ao Senhor Jesus. Não há
dúvida na tradução grega da palavra “anátema”, como “maldito” ou
“amaldiçoado”. Nesse sentido, Paulo revela o seu amor incondicional ao
Messias, Ungido de Deus, Cristo Jesus. Deveras, o problema se inicia
quanto ao entendimento do segundo vocábulo, cujo teor revela uma
dualidade de significados, conforme melhores textos interpretativos.
O que se vem a dizer, nesta singela
investigação bíblica, é que há duas correntes que se divergem quanto ao
significado da expressão e essas correntes caminham em sentido
diametralmente opostos. Numa primeira corrente, há uma “transliteração”
(não “tradução”), na qual se observa uma aglutinação de termos,
envolvendo partículas, da seguinte forma: “mar”, traz o sentido de “Senhor”, acrescentado da partícula “an” ou “ana”, sinalizando o pronome possessivo “Nosso”, portanto ter-se-ia: “Nosso Senhor”. No final do vocábulo, tem-se o verbo “atha“,
que significa “vir” ou “veio” ou “virá”. É possível que o sentido traz a
carga de imperatividade: “Senhor Nosso, vem”, como em Apocalipse: “Vem,
Senhor Jesus”. Contudo, a expressão, no original, não contém o nome de
Jesus, de maneira que teríamos: “O Senhor vem” ou, historicamente: “O
rei vem”, pois era um brado que os habitantes de um povoado exclamava
quando o rei voltava de suas batalhas e isso foi aplicado para o Senhor
Jesus.
Há um outro sentido, pouco conhecido,
mas de intensa veracidade, como uma segunda possibilidade de
interpretação de sentido e é aqui que este texto pretende revelar, tal
seja o segundo sentido e o trago na escrita original. Temos, com a
escrita original, então: “Mara” ou “Mará” (מרה) = “Amarga”, acrescida do sufixo “ata” ou “atá“ (אתה)
= “você” (no masculino). Segundo essa versão – tanto veraz quanto a
primeira – teríamos: “amargo seja você” ou “esteja você em amargura”.
Nesse sentido, Paulo teria dito: “Quem não ama ao Messias, seja maldito e
esteja em grande amargura” ou “Quem não ama ao Messias, seja
amaldiçoado e seja ele amargo”. O que faz bastante sentido dentro do
contexto da frase. Não podemos descartar nenhuma das duas versões. Tudo
vai depender da pronúncia com a qual se verbaliza o termo no original
aramaico. Esse segundo sentido, aliás, será vivido por aqueles que não
forem arrebatados, pois estarão em grande amargura.
Mas não é só. O brado “maranata”, seja
ele na primeira versão, seja ele na segunda versão, é efêmero, dito de
melhor forma: é um brado passageiro, finito e temporário. E por quê é
temporário? Porque ele tem um início e um fim, com um “prazo de
validade”. O brado, para a igreja de Cristo, tem início no pentecoste
neotestamentário, com a igreja primitiva e tem um fim, pois que ele se
consumará quando Cristo voltar. Nesse sentido que se diz que o brado tem
o sentido de baixo para cima, pois surge no coração humano e parte para
a eternidade. Esse texto não invalida a fé que a igreja essencial deve
nutrir na volta do Senhor Jesus. Ao revés. Ele confirma, mas esclarece o
significado do binômio neotestamentário paulino: “anátema e maranata”.
Por escritor Ézio Luiz Pereira (Site: www.ezioluiz.com.br)
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