TEXTOS PARA REFLEXÃO
Conselhos importantes para o dia dia do policial.
Humberto Wendling
"Aprenda com os policiais mais experientes!
Humberto
Wendling é Agente de Polícia Federal e professor de Armamento e Tiro
lotado na Delegacia de Polícia Federal em Uberlândia/MG. Após
13 anos de serviço, uma das coisas mais importantes que fiz foi ouvir e
observar os policiais mais antigos ou experientes, principalmente
durante os seis anos em que trabalhei na Delegacia de Repressão a
Entorpecentes da SR/DPF/MG. O
termo ANTIGO é relativo, pois pode significar alguns anos a mais de
serviço ou a experiência prévia trazida de outra força policial. Mas
mesmo assim esses policiais sabem das coisas. Então,
o segredo é ouvir os policiais experientes, acreditar nas histórias que
contam e colocar seus ensinamentos em prática na sua própria vida.
“Quando você estiver chegando, tire o cinto de segurança!”;
“Eu só atiro quanto tenho certeza!”;
“Se puder beber, comer e descansar; beba, coma e descanse. Você não sabe quando poderá fazer isso de novo!”;
“Policial não trabalha sozinho!”;
“Calma! Ele vai continuar traficando, então a gente prende ele depois!”;
“Algeme pra trás!”;
“Fale pouco e ouça muito!”;
“Não vá fazer m... hein!”,
“Polícia não foi feita pra ajudar ninguém, mas no mínimo para atrapalhar!”
São algumas frases que ouvi destes policiais.
Portanto,
o que eu aprendi a partir disso abrange desde técnicas de sobrevivência
até regras de comportamento que talvez tenham salvo minha vida em
ocasiões que eu sequer percebi.
Não acredite em ninguém. Provavelmente,
uma das coisas mais importantes que aprendi nesses anos é que as
pessoas mentem. E não importa se são avós, pais, filhos, esposas,
maridos, irmãs, irmãos, vizinhos, amigos, trabalhadores, desempregados,
ateus, crentes, testemunhas ou mesmo suspeitos, pois todos eles mentem.
Apesar de não mentirem sempre, com certeza todos eles mentem quando você conversa com eles. Criminosos
sempre mentem. Sempre. E eles vão lhe encarar direto nos olhos,
transparecendo seriedade e inocência, e você será tentado a acreditar
neles. Não acredite, porque eles estão mentindo.
Observe as mãos. Se
um suspeito for lhe atacar, ele vai usar as mãos. Então, algeme
qualquer um que transmita a impressão de que vai dar mais trabalho,
mesmo que ele não goste disso.
“Minha segurança em primeiro lugar, depois o sentimento alheio!”
Foi
o que ouvi de alguém. Certa vez um preso me disse que eu não precisava
algemá-lo porque ele iria se comportar. Bem, eu o algemei e disse que
aquilo era para a segurança dos policiais e não pra dele. Ele não gostou
nada, mas o fato é que eu ainda estou vivo, e aproveitando cada dia de
sol. Lembre-se, quem diz como o trabalho policial deve ser feito é você e
não o preso.
“As mãos matam!”.
Foi
o que disse um professor de tiro da Academia Nacional de Polícia.
Então, observe as mãos constantemente já que você estará correndo risco
até que consiga controlar as mãos do criminoso. Além disso, nenhuma
academia de polícia ensina como algemar presos pela frente; e se o mundo
inteiro algema criminosos para trás, você deve fazer o mesmo.
Sempre
trave sua algema. Se ela não dispõe de um sistema de trava, então você
deve descartá-la. Por quê? Porque todo delinquente é mentiroso, chato e
folgado. Por isso, se sua algema não estiver travada, ele vai reclamar
que ela está apertando até que você o algeme para frente. O problema é
que algemado para frente, o bandido pode fugir, lutar contra você ou
sacar sua arma.
Se
você estiver entrevistando um suspeito e ele olhar para um lado, depois
para o outro, e então sobre os seus ombros, provavelmente ele está
procurando um lugar para onde correr. Algeme-o antes que ele fortaleça
esta idéia e tome uma decisão.
Não
adquira o hábito de colocar suas próprias mãos nos bolsos ou cruzar os
braços na frente de um suspeito. Isso pode transmitir a impressão de que
você é relaxado ou negligente. Além disso, você pode precisar dessas
mãos para se defender. Então, é preciso que elas estejam disponíveis
logo.
“Faça uma busca pessoal. Faça outra busca pessoal.”
Em
28/05/2009 um policial civil foi assassinado e três foram feridos
durante a condução de um preso. O preso foi detido pela Polícia Militar
por estar embriagado e perturbando a ordem. O
suspeito foi levado à delegacia da Polícia Civil de Confresa / MT e
colocado numa cela. Ao ser retirado do local, ele tirou um canivete da
cueca e golpeou os policiais. O
investigador O.S. foi atingido no ombro e morreu em seguida; a escrivã
A.G. recebeu dois golpes, um na cabeça e outro quase no pescoço; o
policial M.M. foi gravemente ferido no abdômen e a investigadora M.S.
também foi ferida. O preso só foi contido quando a policial R.M.M. atirou na perna dele.
Ao que tudo indica, as buscas pessoais realizadas pelas polícias foram mal conduzidas ou não foram feitas. Portanto,
se outro policial lhe entregar um preso, faça uma nova busca pessoal
antes de assumir a custódia, mesmo que você tenha acabado de ver aquele
policial fazer isso. Faça uma
busca pessoal em qualquer pessoa que esteja perto o suficiente para
manter contato físico numa situação que pode se tornar crítica ou se
você tiver a menor suspeita sobre algo.
Se
você não se sente à vontade em “apalpar” alguém, você ainda pode
realizar uma busca pessoal minuciosa. Assim, leve o suspeito até um
cômodo reservado (cela, quarto, etc.) e mande que ele retire toda a
roupa, mas uma peça de cada vez que deve ser entregue na sua mão.
Reviste cada peça de roupa. Ordene que o suspeito, ainda nu, se agache
de frente e de costas. Mande que ele levante os braços e depois as solas
dos pés. Ordene que ele esfregue os cabelos com as mãos, depois abra a
boca e ponha a língua para fora.
Dê
uma geral em qualquer pessoa que entre na viatura, mesmo que seja
aquele informante que já ajudou a polícia centenas de vezes. Afinal,
informantes também são criminosos. Faça o mesmo ao colocar ou retirar um
preso da cela. Reviste os bancos e o cubículo da viatura antes e depois
de colocar um custodiado dentro do carro.
Quando você pode achar drogas, lâminas, anotações, celulares, armas, etc. Armas
e equipamentos Sua arma deve estar pronta, envolvida por um coldre de
qualidade ou por suas mãos e de mais ninguém. Dedo fora do gatilho. Já
falei sobre isso em outros artigos.
“Leve um carregador sobressalente. Se puder leve dois carregadores reservas.”
Conheço
um policial que disparou 15 tiros contra dois assaltantes armados. Num
piscar de olhos o policial ficou sem munição, mas por sorte os
criminosos também ficaram sem munição. Você provavelmente deve conhecer
casos semelhantes. Então, aprenda com as experiências dos outros.
Só atire quando tiver certeza de que é para salvar sua vida ou a de outra pessoa.
Armas
foram feitas para incapacitar pessoas, e muitas vezes até isso é
difícil. Tiros não param aviões, automóveis ou motocicletas a não ser
que você acerte o condutor – o que normalmente não é uma idéia razoável.
Tiros também não abrem portas, sendo provável que o projétil atravesse a
porta e acerte um inocente. Já vi esse tipo de ocorrência duas vezes!
Tenha sempre à mão um canivete tático dobrável e um alicate multifuncional.
Certa
vez, durante uma operação de DRE, aquela velha camionete D-20 de cor
azul teve o cabo do acelerador quebrado numa estrada entre os municípios
de “São Ninguém” e “Lugar Algum”. Mas foi o alicate multifuncional e um
pedaço de arame de um antigão que nos tirou dali. Ele olhou para mim
sorrindo e disse:
“É pra isso que eu carrego estas coisas!”
Em
algumas situações você pode levar alternativas menos letais, como um
spray de pimenta, um bastão retrátil. Um bastão é o melhor substituto
para a coronha de uma arma e para as mãos. Imagine que você precise
quebrar o vidro de um carro para socorrer alguém. Sem esta ferramenta,
talvez você se sinta forçado a quebrar a janela usando objetos que não
foram desenvolvidos para tal fim.
Isso me lembra uma orientação muito importante: proteja suas mãos.
Como
são elas que vão salvar sua vida, você não deve fazer com elas aquilo
que deve ser feito com uma ferramenta. Não ponha as mãos nos bolsos de
um suspeito porque você pode ser ferido por lâminas ou agulhas. Compre
uma caixa de luvas de látex para procedimentos (luvas cirúrgicas). A
caixa com 100 unidades custa pouco pela proteção oferecida contra a
imundice e o mau cheiro que normalmente são encontrados nas casas de
pessoas investigadas.
Recentemente,
recebi um e-mail de um colega (que ganha R$ X por mês) dizendo que não
iria comprar um kit de limpeza de arma (que custava R$ Y) porque isso
era tarefa da União. Espero que ele compre pelo menos a caixa de luvas
que custa menos!
Cuidado com objetos que parecem inofensivos.
Pessoas
desesperadas podem atacá-lo com qualquer objeto à mão, especialmente na
cozinha, no gabinete ou no cartório. Portanto, tenha cuidado com
canetas, grampeadores, ferramentas, tesouras, facas, garrafas, etc.
Lembre-se, observe as mãos e as algeme se suspeitar de algo.
Luzes
Compre
uma lanterna de qualidade. Ser capaz de ver bem é tão importante quanto
estar armado. Jamais compre estas lanterninhas xing ling que são
vendidas nas feirinhas de importados. Compre logo uma lanterna Surefire,
Streamlight, Fenix, Blackhawk, Inova, Ultrafire ou Pelican para
situações táticas. Tenha sempre uma Mini Maglite 2AA ou Police para
buscas diversas (o que economiza a bateria e a vida útil da lanterna
tática) e uma lanterna de bolso 1AAA afixada no chaveiro do seu carro
para as emergências.Isso pode parecer um exagero, mas infelizmente tudo
que depende da energia elétrica cedo ou tarde falha ou apaga.
Cuidado ao dirigir a viatura ou perseguir alguém a pé.
Não
dirija como um doido e ziguezagueando pelas ruas, mesmo numa situação
de emergência. As pessoas demoram a ouvir as sirenes, a entender o que
está acontecendo e o que devem fazer. Com uma viatura é muito fácil você
chegar num cruzamento antes que os outros motoristas percebam. E se
você se envolver num acidente, sua missão acaba aqui porque você não
poderá ajudar ninguém se estiver incapacitado. Portanto, mantenha-se na
faixa da esquerda, pois é isto que manda o código de trânsito é o que os
outros motoristas esperam que você faça. Se
você estiver perseguindo um criminoso a pé e notar que seus colegas
sumiram, pare – eles terão dificuldade para encontrá-lo caso você
precise de ajuda. Se você estiver perseguindo um criminoso e de repente
ele sumir, pare – talvez ele tenha preparado uma emboscada.
Portanto, não banque o herói.
Haverá outra chance para você prendê-lo algum dia ou ele será morto por um desafeto. De qualquer modo, você vence.
Entrevistando suspeitos
A
primeira coisa que você deve fazer ao entrevistar algum suspeito é
evitar perguntas idiotas. Isso parece óbvio, mas mesmo assim cito
algumas perguntas que já foram feitas. Prepare-se!
“O que você comeu hoje?”;
“Você está armado?”;
“Onde está a droga?”;
“Este documento é falso?”;
“Você vai fugir?”;
“Esta arma é sua?”,
“Por que você não diz a verdade?”.
O
segundo aspecto numa entrevista é deixar que o suspeito fale. Quanto
mais ele fala, mais mentiras ele conta. Ouça o que ele diz, tome nota e
confira as informações. Se forem falsas, simplesmente diga ao suspeito
que ele está mentido e que você sabe disso. Quando você tiver alguém sob sua custódia,
jamais comente assuntos relacionados à investigação. Não diga como você
chegou até ele, nem revele qualquer informação que possa ser utilizada
por ele para aperfeiçoar suas técnicas criminosas. E jamais conte o que
ele fez de errado para que você conseguisse pegá-lo. Isto dificulta o
trabalho da polícia depois. Recentemente, um preso reclamou que a
polícia havia entrado muito cedo em sua casa. O policial respondeu que
na verdade a polícia estava no local às 05h30, mas que ela só poderia
entrar no local a partir das 06h. O policial ainda disse que era costume
aguardar alguns minutos pra que todos os relógios marcassem este último
horário. Em outra ocasião, um policial disse ao preso que tinha sido
muito fácil prendê-lo porque ele foi desatento e não percebeu que estava
sendo seguido.
Infelizmente, alguns policiais querem mostrar que são bons profissionais, e acabam revelando informações que não deveriam.
Dê atenção ao instinto Sempre use o bom senso. Sempre.
E
se você sentir que há algo errado, simplesmente acredite que há algo
errado. Mantenha este foco mental até ter certeza se está tudo bem.
Sempre confie na sua intuição. Sempre. É o acúmulo das experiências que
fazem sentido para você e que está trabalhando de modo subconsciente
para mantê-lo a salvo. Isso me leva ao item:
“Não acreditem em ninguém”.
Abra seus olhos Saiba que não existem presos “tranquilos” ou “gente boa”. As unidades prisionais espalhadas pelo país estão repletas de:
Ladrões;
Assaltantes;
Homicidas;
Latrocidas;
Estelionatários;
Falsários;
Seqüestradores;
Torturadores;
Estupradores;
Traficantes,
etc.
E nenhum deles é “gente boa” ou “tranquilo”. Se você ainda tem alguma dúvida, basta perguntar às vítimas!
Dos direitos dos presos.
O
artigo 42 da Lei 7.210/84 diz o seguinte: “Aplica-se ao preso
provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o
disposto nesta Seção.” A expressão NO QUE COUBER implica dizer
que o preso não tem direito a tomar cafezinho, comer pão de queijo,
fumar um cigarrinho, perambular pela delegacia como se fosse um
funcionário ou ficar abraçadinho com a namorada".
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