PEQUENA FÉ
(Extraído do livro:
Estudos no Sermão do Monte, Martyn Lloyd Jones, Ed. Fiel)
De acordo
com o final do versículo 30 de Mateus capítulo 6: “...vós
outros, homens de pequena fé”, percebemos nas palavras do nosso
Senhor que o problema da ansiedade é a falta de fé. Ele parece ter
querido dizer: A verdadeira causa da dificuldade de vocês é que
vocês não extraem as deduções óbvias daquilo que acontece aos
pássaros e flores.
Jesus não
diz que não temos fé, mas antes, somos acusados de possuir pequena
fé. Não era a falha de fé que o preocupava, mas sua inadequação.
Uma vez mais devemos nos lembrar de que Jesus dirigia estas palavras
exclusivamente à indivíduos crentes. Essas coisas foram ditas
acerca de pessoas sobre quem Jesus pôde usar a expressão: “vosso
Pai celeste”. Essa é a mensagem dirigida exclusivamente àqueles à
respeito de quem as bem aventuranças se aplicam, àqueles que
aceitaram Jesus Cristo como Senhor e Salvador e se tornaram assim
filhos de Deus em Cristo Jesus.
Nosso
Senhor falava aqui de crentes que tinham apenas a fé salvadora, mas
que se inclinavam por parar nesse aspecto da fé. O desejo de Jesus
era que estes fossem conduzidos a uma fé mais ampla e mais profunda,
como resultado de lhe terem escutado. A preocupação e a ansiedade,
o sentir-se derrotado e desanimado, o deixar-se dominar por esta vida
e pelas circunstâncias que a cercam, no caso de um crente, sempre se
devem a uma falta de fé. Assim sendo, aquilo que deveríamos ter por
alvo é uma fé maior.
No que
concerne à questão da salvação de nossas almas, sentimo-nos
perfeitamente à vontade. Mediante a obra realizada pelo Espírito
Santo, fomos despertados para que pudéssemos ver o nosso estado de
condenados ao inferno. Vimos quão inteiramente incapazes nós somos
de endireitar-nos sob as vistas de Deus, e vimos que o único caminho
de libertação se encontra no Senhor Jesus Cristo que veio à este
mundo, morreu por nossos pecados e dessa forma fomos reconciliados
por Deus.
Infelizmente
o povo evangélico frequentemente para neste ponto e no aspecto não
menos importante que é a salvação eterna. Porém em suas vidas
diárias os crentes vivem derrotados e pouca diferença se vê em
suas vidas com a dos não crentes, pois eles se tornam ansiosos e
apreensivos e amoldam-se facilmente a este mundo no tocante a muitas
coisas.
Examine a
Bíblia Sagrada e descubra que o número de promessas de Deus a seu
povo é espantosamente grande. No entanto, costumamos selecionar
algumas dentre estas promessas e não nos lembramos das muitas
outras. A fé se torna confinada a apenas algumas promessas, enquanto
deveríamos nos apropriar de cada uma delas.
Muitas
vezes cremos no Senhor Jesus, mas não cremos em suas promessas, e
não cremos nEle quando Ele declara uma coisa como essa de que
haveria de cuidar do nosso alimento, bebidas e vestes. Jesus Cristo
disse: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados
e eu vos aliviarei”. (Mateus 11:28); mas guardamos para nós mesmos
nossos problemas, preocupações, sentindo-nos esmigalhados pelo
excessivo peso, derrotados por estas coisas, ansiosos a respeito
delas. Contudo, a nossa dificuldade é que não confiamos no Senhor
Jesus. Essa é a nossa pior dificuldade. A “pequena fé” não
aceita o que a Bíblia diz, sem tirar e nem pôr, e nem crê para
viver por ela, aplicando-a a vida diária.
O quadro
que nos é fornecido é de um povo que está sendo governado pelas
circunstâncias externas da vida. As coisas acontecem conosco, e
imediatamente elas nos subjugam e dominam. Mas a descrição que as
escrituras fazem do crente é a de alguém que sempre se conserva
acima das circunstâncias. O crente pode até mesmo regozijar-se na
tribulação (ver Romanos 5:3), e não somente resistir passivamente
às dificuldades. Somente alguém que tenha fé verdadeira pode olhar
para esta vida segundo este prisma, e somente este alguém pode
chegar a tais alturas.
Por qual
motivo o homem dotado de pequena fé permite que as coisas o dominem,
deixando-o derrotado? A resposta é que em certo sentido, a real
dificuldade da pequena fé é que ela não deixa o crente meditar,
refletir, pois precisamos ter uma correta concepção de fé. Assim,
tal crente permite que as circunstâncias o avassalem. Precisamos
passar mais tempo estudando as lições que nos foram dadas pelo
Senhor Jesus. A fé cristã consiste primariamente em pensar. Olhe as
aves, pense sobre elas. Consideremos as flores do campo e levemos em
conta todas estas coisas.
A
dificuldade daquele que é dotado de pequena fé é que ao invés de
controlar os seus próprios pensamentos, os pensamentos deste crente
estão sendo controlados por alguma outra coisa. Permitimos que os
infortúnios da vida nos dominem os pensamentos, ao invés de
refletirmos claramente a respeito de nossa vida diária, ao invés de
encararmos a vida com firmeza, vendo-a em sua inteireza.
Devemos ler
a Bíblia e pensar conosco: “ Tudo quanto estou lendo aqui foi dito
para mim. Deus não muda; Ele continua sendo exatamente como era há
dois mil anos atrás e todas estas coisas são absolutas e eternas.
Pequena fé significa um fracasso em aceitar e confiar nas Escrituras
como deveríamos.
A nossa
dificuldade é que não tomamos consciência do fato que somos filhos
de nosso Pai celeste. Se ao menos tivéssemos uma concepção vaga e
indefinida dos propósitos divinos com relação a nós mesmos, seria
impossível nos deixarmos dominar pelas nossas preocupações. Paulo
orou pelos crentes em Éfeso: “...para que saibais qual seja a
esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da sua
herança nos santos, e qual a sobre-excelente grandeza sobre nós, os
que cremos...” (Efésios 1:18-19)
A nossa
dificuldade é que não percebemos o que somos como filhos de Deus e
nem vemos os graciosos propósitos de Deus relativos a nós. Os
filhos de Deus são destinados para a glória. Todos os propósitos e
as promessas de Deus são dirigidas a nós e feitas somente para nós;
sendo que o que necessitamos fazer é tomar consciência daquilo que
Deus tem falado sobre nós como filhos Seus. No momento em que
realmente aprendemos essas realidades a preocupação torna-se
desnecessária. O homem então começa a aplicar a lógica que diz:
“Porque se nós quando inimigos, já fomos reconciliados com Deus
mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados
pela sua vida.” (Romanos 5:10). Cremos em Deus, contudo quão
devagar somos em crer e perceber que Ele é aquilo que assevera ser,
isto é, nosso Pai de amor.
Os filhos
de Deus são aqueles cujos nomes foram escritos no Livro da Vida,
desde antes da fundação do mundo. Fomos eleitos “antes da
fundação do mundo” (Efésios 1:4). Esse foi um dos segredos dos
grandes heróis da fé, como podemos ver em Hebreus 11. Estes
compreenderam algo acerca dos imutáveis propósitos de Deus, e por
esta mesma razão, todos eles sorriam diante das calamidades. Tão
somente prosseguiam, porque assim Deus lhes dissera para fazer e
também sabiam que os propósitos de Deus certamente teriam
cumprimento.
A tragédia
de nossa posição é que não conhecemos o amor de Deus como
deveríamos. Paulo orou em favor dos crentes de Éfeso no sentido de
que eles viessem a conhecer profundamente o amor de Deus. Não
conhecemos a extensão do amor de Deus. Se ao menos conhecêssemos e
nisto descansássemos (ver João 4:16), as nossas vidas seriam
inteiramente diferentes. Se ao menos tomássemos consciência do
amoroso cuidado de Deus por nós, e do fato de que Ele sabe tudo a
nosso respeito, preocupando-se com as mais insignificantes minúcias
de nossas vidas! O indivíduo que assim crê, jamais pode viver
esmagado pelas preocupações. “ Aquietai-vos e sabei que eu sou
Deus, sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra” (Salmo
46:10).
À
luz destas informações, não se torna ridícula toda e qualquer
preocupação? Não é a preocupação algo inteiramente insensato?
Isso quer dizer apenas que não pensamos e também que não lemos a
Bíblia sagrada como deveríamos. Essa pequena fé deve-se à falha
de não aplicarmos aquilo que reivindicamos saber e crer. Podemos nos
lembrar do incidente na vida do nosso Senhor, quando Ele estava
dormindo na popa do barco e a água começou a entrar. O mar se
tornara extremamente agitado e os discípulos preocupados e temerosos
disseram: “Mestre, Mestre, estamos perecendo!”. A resposta dada
pelo Senhor Jesus foi: “Onde está a vossa fé?” (ver Lucas 8:
23-25)
Devemos
cuidar para que a nossa fé esteja onde deve estar em cada
determinado momento. Devemos ter consciência de que ficar preocupado
é cair em grave contradição com a nossa posição de filhos de
Deus. Não existe circunstância ou condição nesta vida, que deva
levar um crente a ficar preocupado. O crente não tem qualquer
necessidade de preocupar-se, pois se ele assim o fizer estará tão
somente condenando a si mesmo como homem dotado de pequena fé, e
também desonrando o seu Deus, mostrando-se desleal para com seu
bendito Salvador. “Não andeis ansiosos, antes exercei a fé;
compreenda a verdade bíblica e aplique-a a todos os detalhes da
vida.”
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